Para falar, uma criança precisa ser exposta a milhões de palavras e situações onde a fala acontece. Ela precisa de estímulos – e não é qualquer um.
Desde muito cedo, toda brincadeira, troca de olhar, intenção e cuidado nas ações de interação são combustíveis para que o bebê entenda e aprenda os mecanismos de construção da comunicação.
Quando o bebê sorri e recebe de volta nosso sorriso. Quando o bebê começa a falar na própria brincadeira com sons e retribuímos à essa intenção. Quando a criança tem a fala ainda meio “enrolada”, mas as pessoas próximas compreendem e seguem na conversa. Em cada uma dessas fases, forma-se a base em nosso cérebro para que a fala aconteça.
Todos os sentidos auxiliam nisso, mas um dos meios mais importantes para o desenvolvimento natural da nossa comunicação é a audição.
Por isso, temos estabelecido em nosso país uma política para detecção da perda auditiva logo ao nascimento da criança.
Como já falamos aqui, quanto mais cedo a identificação de que algo não vai bem com a audição, mais cedo intervirmos para compensar os efeitos da privação do som – por exemplo, com a adaptação das tecnologias auditivas apropriadas para a criança voltar a ouvir e assim garantir o acesso das informações de fala e do mundo para que ela possa se desenvolver a comunicação oral.
Mesmo quando essa alteração de audição é pequena, ela causa impacto em habilidades importantes para construção da linguagem e aprendizado.
No caso de uma alteração leve, por exemplo, há alguns anos era comum a ideia de que não se fazia necessário o uso de nenhum recurso para tornar a audição possível, uma vez que a criança podia ouvir a fala e dar conta da situação de comunicação.
Hoje já existem evidências de pesquisas científicas que demonstram que essas crianças estão mais suscetíveis a enfrentarem dificuldades bastante consideráveis nos aspectos emocionais (segurança, autoconfiança, auto-estima) e que, principalmente no ambiente escolar, elas estão em risco para maior fadiga cognitiva. Assim, aprender e se desenvolver tornam-se tarefas muito mais desafiadoras e pesadas – que com o uso de uma tecnologia auditiva se torna desnecessário tal esforço extra.
Por isso, para qualquer alteração relacionada à fala, por menor que seja, é muito importante avaliar também como a audição está acontecendo. É muito comum as crianças que tem dificuldade de ouvir também apresentarem dificuldade de fala.
As principais recomendações de desenvolvimento infantil internacional (Academia Americana de Pediatria, Academia Americana de Audiologia) sugerem que a audição da criança seja avaliada e monitorada durante os primeiros anos de vida, principalmente antes do início da alfabetização.
Vamos falar mais sobre esse assunto nos próximos textos e no vídeo deste mês, a Juliana Trentini do canal Fala Fono conta um pouco da relação da fala com a audição e fala sobre a sua experiência pessoal vinculada a este tema.