Estabelecer os limiares auditivos de bebês e crianças pequenas é um processo. No diagnóstico de crianças pequenas essas respostas podem ser obtidas por meio do uso de múltiplos exames, que podem ser classificados em dois tipos: os exames objetivos e os exames comportamentais.
Os exames objetivos são aqueles que não dependem da reação da criança para o som. Já os comportamentais são aqueles em que avaliamos como ela responde para essa estimulação. Ambos se complementam e tem seu valor, por isso, é como um quebra cabeça, onde, ao final, da união das partes teremos o todo da imagem que ele representa.
Reunimos aqui num breve resumo a descrição de casa um desses exames.
Os exames objetivos
Provas de impedância acústica: timpanometria e reflexos acústicos
São procedimentos que permitem a avaliação das condições da orelha média e externa, além da avaliação da via auditiva periférica. Não é uma avaliação que permite informação sobre os níveis mínimos de audição, mas sim sobre as condições da orelha média para que os resultados das demais avaliações não sejam por ela afetados. É por ele que descobrimos, por exemplo, se uma criança está com otite.
Esses exames podem ser realizados desde o nascimento, mas no caso de bebês até os seis meses de idade, as diferenças anatômicas devem ser levadas em consideração na hora do registro. A timpanometria nesses casos deve ser realizada com uma sonda na frequência de 1KHz*.
*O uso da sonda de frequência mais baixa (226Hz) para esta população pode gerar resultados duvidosos: o resultado pode ser normal, quando na verdade não é e isso se deve devido às diferenças de tamanho do conduto e características físicas que modificam o que conhecemos como padrão de ressonância.
Emissões Otoacústicas
É o exame realizado para triagem auditiva ao nascimento, o teste da orelhinha, mas também tem aplicação no diagnóstico.
Por meio da inserção de uma sonda no conduto auditivo, ele permite detectar a funcionalidade das células ciliadas externas da cóclea. São utilizados dois tipos de estímulos diferentes para este registro: estímulo transiente e produto de distorção. O primeiro é o mais utilizado na triagem auditiva neonatal e o conjunto dos dois permite informações para diagnóstico de uma alteração auditiva.
Potencial evocado auditivo de tronco encefálico (PEATE):
Popularmente conhecido como BERA, o Potencial Auditivo de Tronco Encefálico é o registro da maneira como acontece a condução do som pela via auditiva periférica. Para este registro, podem ser utilizados os estímulos clique ou tons filtrados (específicos por frequência). O clique concentra informação nas frequências entre 1KHZ e 4KHZ e é um dado importante para o diagnóstico. Os estímulos filtrados (Tone Burst) são essenciais para a programação do aparelho no caso de uma perda auditiva.
Para fazer o exame, o bebê precisa estar dormindo. Para crianças maiores, pode ser utilizada sedação e já existem equipamentos que permitem a realização do potencial com a criança acordada ( clique aqui).
As respostas são colhidas por meio de eletrodos posicionados na face da criança. A avaliação acontece com o estímulo pela via aérea (uso de fones) e pela via óssea (som percebido pelo vibrador ósseo).
Apesar de promover uma série de informações e de ser uma avaliação que não depende da colaboração da criança, tanto os potenciais evocados auditivos quanto demais avaliações objetivas não promovem sozinhas o diagnóstico audiológico de crianças pequenas. É o conjunto dos resultados obtidos em todas as avaliações que possibilita dizer sobre a condição e funcionamento da audição em crianças.
Potencial evocado auditivo de estado estável.
É uma avaliação eletrofisiológica que permite o registro das respostas auditivas por especificidade de frequência, de forma simultânea ou isolada, com apresentação unilateral ou bilateral. Isso reduz o tempo de avaliação se compararmos com o registro do PEATE para as mesmas frequências. O registro obtido também na análise de respostas coletadas por eletrodos posicionados na face e cabeça da criança. Na resposta para o som, é realizada uma análise estatística da reprodutibilidade desta resposta ao longo dos períodos de estimulação, também é realizada a comparação da amplitude do sinal da resposta com o ruído da atividade elétrica cerebral. Ou seja, apesar de parecer um exame automático, a interpretação do profissional de saúde auditiva é parte fundamental do processo de avaliação. Este procedimento não substitui nenhuma das avaliações aqui já mencionadas. É um exame complementar na bateria de testes disponíveis. A sua maior vantagem está na especificidade de frequência e, ainda, na possibilidade da sua utilização em campo livre com os aparelhos de amplificação.
Audiometria
A audiometria é uma avaliação que permite descobrir o nível mínimo de volume do som para a pessoa apresentar uma resposta a ele. É um exame bastante utilizado no diagnóstico de adultos e, com técnica específica, é possível de ser realizado em crianças a partir dos 6 meses de idade.
O exame é feito em cabine ou sala com tratamento acústico. É utilizado o fone para a percepção do som em várias frequências. Também são utilizadas palavras e o estímulo também pode ser percebido pelo fone ou pelo vibrador ósseo.
VRA – ( Visual Reinforcement Audiometry – audiometria de reforço visual)
O VRA é uma técnica onde o condicionamento é utilizado para fazer a audiometria de crianças pequenas. Por meio do uso de brinquedos ou quadros interativos, é realizado o condicionamento do comportamento da criança para que procure o brinquedo toda vez que escutar o som.
Em bebês, o VRA pode ser feito a partir dos 6 meses, quando o bebê possui desenvolvimento motor e cognitivo que permite sentar (com apoio) e olhar para os lados em busca do som.
Neste exame, pesquisamos a resposta para 4 frequências e para o estímulo de fala, tanto pela via aérea (uso do fone) quanto pela via óssea (uso do vibrador ósseo).
Audiometria Lúdica
À medida em que a criança cresce, outras técnicas são empregadas para obtenção das respostas para o som.
Por volta dos 18 meses, a técnica do condicionamento empregada inicialmente deixa de ser interessante para o bebê e as respostas passam a ser obtidas por meio de um jogo lúdico, onde a criança é condicionada por meio de uma ação com o brinquedo (por exemplo: jogo de encaixe) a responder quando escuta o estímulo da avaliação.
Essa técnica é utilizada com crianças até os 5 anos de idade
Nas avaliações de diagnóstico audiológico infantil, pode ser comum a necessidade de mais de uma sessão para finalizar o exame. Isso vale para aqueles que não dependem da resposta da criança – mas exigem que ela esteja em sono natural caso não ocorra sedação , e para os que dependem da atenção e resposta dela no caso das avaliações comportamentais.
O médico otorrinolaringologista é o profissional que faz o diagnóstico de uma perda auditiva e encaminha para os serviços de atendimento posterior, de acordo com a conduta necessária ao caso.
No caso do diagnóstico de uma perda auditiva, é possível o início do processo de seleção e adaptação dos aparelhos na criança com meses de vida. O ponto de partida são justamente essas avaliações para o início da jornada auditiva desse paciente. Nessa, quanto mais cedo pudermos dar início à caminhada, melhores e maiores serão as oportunidades para o desenvolvimento da criança.