Descobrir a perda auditiva é uma coisa. Encontrar uma solução que funcione para as necessidades específicas de cada caso é uma outra questão. Para decidir sobre o melhor dispositivo, é importante ter uma ideia dos avanços das tecnologias auditivas atualmente.
Compartilhamos aqui um breve resumo das opções mais comuns nos aparelhos auditivos e implantes cocleares (IC).
Aparelhos auditivos
Uma das soluções mais comuns indicadas para quem possui uma perda auditiva são os aparelhos auditivos. Esses dispositivos cada mais discretos e inteligentes amplificam e processam o som para que a criança e o adulto possam ouvir o que está acontecendo ao seu redor da maneira mais natural possível.
Geralmente os aparelhos auditivos possuem quatro partes principais:
- Microfone – Capta o som, transforma-o em um sinal elétrico e o envia para o amplificador.
- Amplificador – Aumenta o volume do som e o envia para o receptor.
- Receptor – Transforma o sinal elétrico recebido do amplificador de volta para som e, em seguida, envia o som para o canal auditivo.
- Bateria – Fornece energia ao aparelho auditivo para que ocorra a amplificação.
Tecnologicamente, os aparelhos auditivos avançaram anos-luz nas últimas décadas e fornecem acesso ao som de um jeito cada vez mais natural para todos os tipos de perda auditiva. Os aparelhos auditivos atuais possuem chips de computador sofisticados capazes de filtrar o ruído de fundo, adaptando-se automaticamente aos diversos ambientes auditivos individuais para fornecer um som claro, com captação do som e processamento cada vez mais inteligentes. Alguns recursos podem até melhorar a audibilidade trazendo os sons de uma faixa que o usuário não consegue ouvir, para uma faixa mais audível para o indivíduo. A maioria desses produtos possuem recursos de conectividade, que permitem que eles possam ser emparelhados com dispositivos usados no dia a dia, via Bluetooth, por ex, com celulares ou TVs, enviando som diretamente aos ouvidos do usuário.
Existem vários modelos diferentes de aparelhos auditivos no mercado hoje, incluindo:
Cada um desses modelos se adapta e funciona de maneiras diferentes. No caso das crianças, a prioridade é garantia de acesso a fala para o desenvolvimento. Por este motivo, o modelo indicado é o retroauricular, visto que a adaptação dos modelos com receptor no canal ou as soluções intra-aurais tem como maior desafio a retenção, o bom posicionamento e a adaptação de forma confortável e segura considerando o tamanho do conduto desses pacientes.
Implantes cocleares (IC)
Os implantes cocleares são uma solução auditiva capaz de mudar a vida de pessoas que possuem perda auditiva severa ou profunda, quando o benefício para ouvir e entender a fala com uso dos aparelhos auditivos não é satisfatório. Diferente dos aparelhos auditivos, os implantes cocleares contornam a parte do ouvido que tem a lesão e enviam sinais diretamente para o cérebro através do nervo auditivo.
Os sistemas de implante coclear consistem em dois componentes:
- Processador de som (componente externo) —O microfone do sistema capta as ondas sonoras e faz a conversão para sinais digitais detalhados que são enviados ao implante.
- O implante (componente interno) – o implante recebe sinais digitais do componente externo e os converte em sinais elétricos que são enviados ao nervo auditivo. O nervo auditivo então envia impulsos ao cérebro, onde são interpretados como som.
O processo
Os pacientes candidatos ao uso do IC recebem um encaminhamento para um centro de implante coclear de seu médico otorrinolaringologista ou fonoaudiólogo. A equipe de profissionais do serviço de IC realiza um bateria de testes para avaliar se eles são candidatos ao implante coclear. Além dos profissionais de saúde auditiva, psicólogos e assistente social também fazem parte deste grupo de avaliação.
Uma vez que o paciente é candidato ao IC, o serviço de saúde auditiva irá agendar a cirurgia do implante. Duas a quatro semanas após a cirurgia, é realizada a sessão de ativação e o paciente receberá seu processador externo. Nessa primeira consulta de ativação o paciente usará pela primeira vez seus implantes cocleares para ouvir sons.
Serão agendadas uma série de sessões de programação, chamadas de mapeamento, com seu fonoaudiólogo, que fará o ajuste fino de suas configurações. Além disso, são recomendados retorno de acompanhamento aos serviços de implantes cocleares para monitoramento.
Ouvir com um IC é muito diferente da audição normal. Quando o IC é ativado, a maneira como o paciente irá perceber o som inicialmente depende de vários fatores. Isso inclui a idade em que a perda auditiva começou, a duração da perda auditiva, a idade em que o paciente recebeu fez o IC, a saúde da orelha interna e quaisquer outras condições médicas que possam afetar o desempenho auditivo.
Cada ouvido é único e todos respondem de maneira diferente ao que ouvem primeiro. Com terapia fonoaudiológica e o tempo de estimulação, as habilidades de escuta são desenvolvidas e refinadas e o paciente percebe cada vez mais detalhes no som ao seu redor. Conforme o cérebro recebe a estimulação, ouvir se torna mais natural.
Implante coclear para crianças
Os implantes cocleares também são uma solução auditiva muito eficiente para crianças com perda auditiva severa ou profunda, quando os aparelhos auditivos fornecem audibilidade adequada para percepção da fala e/ou não é observado evolução no desenvolvimento das habilidades auditivas e de linguagem. Um fator de sucesso com IC em crianças é ter um forte apoio da família, bem como um plano de tratamento de longo prazo que apoie o desenvolvimento de habilidades de fala, audição e linguagem.
Para todas as propostas de intervenção e reabilitação, quanto mais cedo a perda auditiva na criança puder ser diagnosticada e um plano de intervenção for estabelecido, mais bem sucedidas serão as chances de adquirir em fases adequadas a fala, escuta, linguagem e habilidades sociais.
Aparelho auditivo e implante coclear – a proposta bimodal
Quando o paciente possui um IC numa orelha e a orelha contralateral por algum motivo não possui o mesmo dispositivo, mas tem limiares que possibilitam ouvir com o aparelho, o uso das duas soluções recebe o nome de adaptação bimodal.
Existem soluções hoje, como os sistemas Link da Phonak, que unificam os dois tipos de estimulação. Essa adaptação é exclusiva para os implantes cocleares da Advanced Bionics (AB). No modo bimodal, o IC e o aparelho auditivo trocam informações – o implante coclear recebe dados da amplificação do aparelho e aparelho, por sua vez, vai combinar os recursos da amplificação para que a sensação do som e os programas ativos sejam os mesmos do processador de fala do IC. Atualmente no Brasil, esta solução é possível para os processadores de fala Naída da AB e aparelhos auditivos Naída Link.
A vantagem neste modo de adaptação é a continuidade da estimulação sonora na orelha contralateral ao IC e a unificação da sensação auditiva na percepção do som. Ouvir com os dois ouvidos também fornece vantagens importantes para discriminar a fala, principalmente quando ela acontece em meio ao ruído do ambiente, e auxilia na localização do som no espaço.
Para além dos aparelhos e IC – acessibilidade com microfones sem fio
Para garantia de escuta sem esforço quando ruído do ambiente e a distância atrapalham a percepção consistente da informação de fala, o uso do sistema de microfone sem fio, como Roger, é indicado. Principalmente para crianças, usuárias de aparelhos ou IC, é esse o sistema que garante a acessibilidade para aprendizado e boa comunicação em casa, na escola, em situações de lazer quando ouvir se torna mais difícil pelas características do ambiente de escuta. A adaptação das soluções complementares, como Roger, é parte dos protocolos de boas práticas em reabilitação auditiva em crianças para todos os graus de perda.